Arquitetura é música congelada.
-Arthur Schopenhauer-

sábado, 23 de abril de 2011

Bichinho e a nossa performance

Bichinho é um vilarejo próximo à Tiradentes (7 km), com não mais que 800 habitantes. Gente simples e hospitaleira, belo artesanato, casas feitas com tijolo de adobe (material que mistura terra crua, água e palha) e uma paisagem estonteante: é assim que eu descreveria, em poucas palavras, o que é Bichinho.
Com o intuito de conhecer a vila e analisá-la para o nosso próximo projeto (que falarei mais adiante do que se trata), tivemos a rica experiência de ficar quatro dias lá, tendo contato com seus moradores e a vida que levam naquele pequeno lugar.
E a surpresa foi grande:  não esperávamos que um lugar como aquele fosse nos acrescentar tanto - tanto como alunos quanto como pessoas. A humildade do povo é realmente cativante e sua generosidade fez com que nos sentíssemos em casa.
Por sua vez, o projeto do qual eu falara antes consiste em uma proposta de intervenção na cidade, algo que, com base nas informações coletadas, pensamos que possa melhorar a vida dos habitantes de Bichinho, ou, pelo menos, ser útil de alguma forma. O caminho não é fácil, mas já tivemos algumas ideias que, ao serem aprimoradas, podem realmente se tornar algo concreto. Mas falarei mais sobre toda essa questão no próximo post.

Casa de adobe
O intuito principal deste aqui é abordar o tema "performance". Antes de irmos para Bichinho, os professores disponibilizaram alguns links de vídeos como embasamento para a nossa próxima tarefa: nós mesmos teríamos que criar uma performance em Bichinho, passando, para quem a assistisse, a impressão que tivemos do local ao explorá-lo. A princípio, este lugar seria aquele no qual faríamos nossa intervenção, mas, no caso do meu grupo, escolhemos um lugar aleatório, onde poderíamos utilizar vários de seus recursos para montar nossa performance. No caso, esse lugar foi a varanda de uma casa/loja, onde havia uns 5 manequins de madeira expostos - além de utilizá-los como se fossem os próprios moradores locais, a varanda remete-nos à ideia do público/privado.
Antes de falar um pouco mais sobre a performance, vamos à sua definição:
  
Performance: "Forma de arte que combina elementos do teatro, das artes visuais e da música. Na performance, de modo geral, não há participação do público. sinalizando um certo espírito das novas orientações da arte: as tentativas de dirigir a criação artística às coisas do mundo, à natureza e à realidade urbana. Cada vez mais as obras articulam diferentes modalidades de arte - dança, música, pintura, teatro, escultura, literatura etc. - desafiando as classificações habituais e colocando em questão a própria definição de arte. As relações entre arte e vida cotidiana, assim como o rompimento das barreiras entre arte e não-arte constituem preocupações centrais para a performance, o que permite flagrar sua filiação às experiências realizadas pelos surrealistas e sobretudo pelos dadaístas." 
Por Enciclopédia Itaú Cultural

Igreja Matriz N. S. da Penha de França
Depois de alguns workshops de como perceber e sentir os locais de forma variada, não só utilizando a visão, mas também os outros sentidos - tivemos a experiência de tatear um determinado lugar, de olhos vendados, e depois desenhá-lo da forma que pensávamos que fosse, além de termos tido outro workshop sobre a técnica do decalque -, tínhamos recursos suficientes para fazer a nossa performance. Porém, a parte mais difícil para todos foi a de ter que pensar em uma apresentação abstrata, que não tivesse um enredo, como o teatro, e que a princípio não tivesse um objetivo (ou, pelo menos, não um que ficasse evidente).
Croqui do lugar da performance
Para o grupo inteiro, isso soava como maluquice: qual é a finalidade de se fazer algo sem que tenha um sentido? Por que não podemos transmitir uma mensagem clara por meio da nossa apresentação? Até que ponto podemos ir sem que se a performance se torne um teatro, uma encenação ou até uma dança? (Lembrei-me até do filme/documentário chamado "Amélia", que vimos logo em um dos primeiros dias de aula, e que é justamente um espetáculo da dança. Mesmo não sendo uma encenação, tem uma mensagem a ser passada para quem o assiste, o que não o torna menos envolvente ou tocante). Apesar de todas as dúvidas, aceitamos a proposta e quebramos a cabeça para atender todos os pré-requisitos da performance. E, para dizer a verdade, foi uma experiência bem surpreendente.

Oficina de Agosto
Tentamos passar a nossa impressão de Bichinho, principalmente o nosso espanto ao constatar que os moradores não eram pessoas alienadas como ingenuamente pensávamos que fossem. 
Até as crianças já têm aparelhos celulares e em todas as casas há uma televisão. Além disso, há uma fachada, comum em cidades turísticas, que mostra aos visitantes apenas o lado bom do lugar, tais como o artesanato, as casas enfeitadas e a hospitalidade do povo. Porém, é atrás desta que se esconde a intimidade de cada habitante do vilarejo e como eles realmente são; somente depois de algum tempo é que podemos ver esse outro lado, que tão poucos conhecem de verdade.

No final, descobrimos que nem tudo tem ou precisa ter um sentido. Sentir é muito mais importante do que entender.

As fotos foram tiradas de sites variados na internet e os croquis são de minha autoria.

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